Ivan VI da Russia e seu damnatio memoriae

 Damnatio Memoriae é um termo em latim para “Condenação da Memória” e foi isso que o personagem da matéria de hoje sofreu, vamos conhecer?

Essa prática era estabelecida principalmente em Roma para aqueles que trouxeram vergonha para ao Estado Romano, assim apagando todo e qualquer vestígio da existência dessa pessoa, a honra da cidade seria mantida. Dificilmente essa prática era eficiente, pois comumente os grandes imperadores Romanos, que sofreram essa condenação, tinham grandes aliados políticos que não deixavam sua memoria simplesmente desaparecer. Apesar de não ser um termo muito conhecido grandes Imperadores sofreram a damnatio memoriea como Calígula, Nero, Maximiano, Constantino II, Magno Máximo e outros.



Outras sociedades também adotavam um sistema parecido nos tempos antigos, há histórico de faraós ordenando ataques a memorias de outros, Heróstrato na Grécia também sofreu algo parecido quando os lideres de Éfeso decidiram que aqueles que dissessem seu nome morreriam. No Judaísmo  a maldição “Que o nome e memória dele/a sejam obliterados,” é a pior maldição que um judeu pode lançar.

Ivan VI Antonovich da Rússia também foi alvo dessa condenação, nascido em 23 de agosto de 1740, foi nominalmente Imperador da Rússia por 13 meses. Ele tinha apenas dois meses de idade quando foi proclamado Imperador e sua mãe nomeada como Regente. Apenas um ano depois, sua prima-irmã Elizabeth da Rússia tomou o trono através de um golpe, se tornando assim Imperatriz da Rússia. Ivan e seus pais foram presos longe da capital e passaram o restos de suas vidas como prisioneiros. Depois de mais de vinte anos como prisioneiro, Ivan foi morto por seus guardas após, ao que se parece, uma tentativa de fuga, nem mesmo os guardas sabiam a verdadeira identidade de Ivan.

Durante o reinado de Elizabeth, o nome de seu predecessor foi submetido a um procedimento rigoroso de damnatio memoriae. Todas as moedas, documentos e publicações com o nome e os títulos de Ivan foram sistematicamente confiscados e destruídos, e agora são de uma extraordinária raridade. Em 1741 cerca de 165 mil moedas de 1 Rublo foram cunhadas com a efigie de Ivan VI, gravadas em prata .802, pesavam cerca de 25g e possuía um diâmetro de 41mm. Em seu anverso podemos ver o retrato de Ivan VI e os dizeres “Ioann pela graça de Deus Imperador e Autocrata de toda a Rússia SPB”. no Reverso, a águia de duas cabeças e usando a coroa, simbolo antigo da Rússia e também seu ano de cunho.

Na  ascensão de Catherine II, a grande, ao trono, medidas mais severas foram tomadas. Assim, foi ordenado ao oficial encarregado que o prisioneiro “sem nome” em nenhuma hipótese poderia ser entregue com vida nas mãos de qualquer um e que na menor tentativa de fuga o mesmo deveria ser eliminado. Nessa época, vinte anos de confiamento solitário Ivan demonstrava um certo desequilíbrio mental, apesar de na verdade nunca ter sido realmente insano. Um subtenente da guarnição onde Ivan era prisioneiro, Vasily Mirovich, soube de sua identidade e formou um plano pra libertá-lo e proclamá-lo Imperador. Em 5 de julho de 1764, Mirovich conquistou uma parte da guarnição e exigiu a libertação de Ivan, seus carcereiros, por ordens diretas de seu comandante imediatamente assassinaram Ivan em conformidade com as instruções secretas já em sua posse. Mirovich e seus partidários foram presos e executados poucos depois.

Em uma escala de 0 à 100, a moeda de 1 Rublo de Ivan VI atingiria o número 95, estima-se que uma moeda desse tipo possa chegar a valer $ 20.000,00 (vinte mil dólares), números que seriam superiores a R$ 60.000,00 (sessenta mil reais), é claro que esse valor pode crescer um bocado, tudo depende de como e onde essa moeda seria encontrada, pois, apesar da relativa grande cunhagem, poucas foram as que sobraram.

Classificada aqui pela Numismática Castro na categoria “Moedas que nunca teremos”, poderemos aqui nos “contentar” como uma réplica, uma pequena lembrança de uma moeda que de verdade nunca vamos ter, essa é uma peça digna de um museu, não só pela sua raridade que já é enorme, mas por toda a história que a cerca.

Uma observação, a moeda dessa foto faz parte do meu acervo particular, foi vendida a mim como se fosse a original aqui no Rio de Janeiro, é claro que o “vendedor” não sabia com quem ele estava falando, acho até hoje que paguei caro nessa moeda, foram R$35,00 gastos só porque eu estava me divertindo com a história que o falsário me contava, um dia eu compartilho com vocês.



André Luiz Padilha

Graduado em direito com especialidade em meios alternativos de soluções de conflito e atualmente é estudante de História. Colecionador de moedas desde 1997 e numismata desde 2011. É um ativo divulgador da numismática nacional publicando diversos artigos e estudos por dezenas de plataformas, presta serviços como avaliador e consultor em pelo menos 9 países, também é o fundador da Numismática Castro, do CNERJ e do canal Café e Numismática. É sócio da American Numismatic Association (ANA)

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