A Numismática é uma ciência cheia de histórias conturbadas, afinal, é um consenso universal que não devemos brincar com o dinheiros dos outros, e basicamente, numismática pode ser classificada assim. De tempos em tempos podemos presenciar alguns conflitos em nossa ciência, discussões sobre teorias, que as vezes, ultrapassam o limite do considerado saudável, infelizmente.
E, na minha humilde opinião, não há assunto mais polêmico em nossa numismática do que as obsidionais holandesas, para muitos elas são classificadas como as primeiras moedas do Brasil, para outros não, mas com certeza elas são as primeiras moedas com a palavra Brasil cunhadas, já até falamos disso aqui em outro momento do site.
Quem aqui nunca ouviu falar da história da “Botija do Rio Formoso”? Um caso clássico da numária nacional, quando no ano de 1967 uma botija de barro foi encontrada na cidade de Rio Formoso, em Pernambuco, com vários “Ducados Brasileiros” dentro. Atestar a autenticidade destas moedas é um trabalho extremamente difícil, alguns estudiosos se manifestam contra, outros a favor e muitos outros “andam conforme a música” sem nunca terem lido um texto sequer sobre essas clássicas moedas da numismática brasileira.
Como citou Rubens Bulad “Utilizando espectrômetro de fluorescência de Raios-X, pode-se afirmar com exatidão até mesmo de qual mina foi retirada o metal de qualquer peça, devido a existência de microscópicas inclusões de outros metais e minerais. Isso por si só pode aferir a autenticidade de qualquer moeda.”
Infelizmente, aqui no Brasil, muitos estudiosos, sem querer desmerecer nenhum deles é claro, possuem uma característica que eu brinco chamando de “incapacidade relativa”, muitos são dotados de conhecimentos de alto nível, muitos já ouviram diversas histórias em razão de sua vasta experiência no universo numismático e outros, mesclaram conhecimentos externos, como geologia, geografia, química e outros, com conhecimentos específicos para assim criarem teorias extremamente completas através de um conhecimento, muita das vezes, empírico.
Acontece que muitos desses já citados, e respeitados, estudiosos não possuem um material de estudo adequado para se classificarem como tal, já discutimos sobre isso uma vez e classificamos o que seria um “kit básico” para um estudante de numismática, equipamentos como uma balança de alta precisão, um paquímetro adequado, uma boa lupa, digital ou não, capaz de lhe mostrar os detalhes da moeda e por ai vai. É claro, que se há um kit básico, também haverá um kit avançado, infelizmente, posso contar nos dedos os amigos que possuem equipamentos adequados para uma boa pesquisa numismática.
Assim, um nome consideravelmente respeitado somado a primitiva técnica do “olhômetro” concluem coisas que para estudiosos de verdade são verdadeiros absurdos, mas que acabam por serem respeitados pela grande massa desinteressada pelo conhecimento, muitos só querem ter a peça em casa. Isso acarreta em uma verdadeira corrente de desinformação, uma grande “bola de neve” com o passar dos anos e infelizmente, as vezes é o tempo que valida essas teorias absurdas.
Por isso, ao menos no caso dos Ducados brasileiros, gostaríamos de apresentar essa lista bibliografia, que sabemos que não é completa, para que vocês possam realmente ter acesso a uma série de estudos sobre o tema, e por sua vez, ou pesquisarem suas próprias teorias, o que apoiamos e recomendamos, ou ao menos possam ter acesso a uma grande quantidade de conhecimentos, para que, em uma próxima conversa, possam falar do assunto com verdadeiro conhecimento de causa.
– ANGELINI, Cláudio Marcos. Os Holandeses no Brasil e as obsidionais. São Paulo: texto publicado na página da Revista Acervus Cultura e Arte – Belo Horizonte, MG.
– COLIN, Oswaldo. Brasil através da moeda. Rio de Janeiro: Centro Cultural Banco do Brasil, 1995, 64p.
– CUHAJ, Geoger S. (editor) Standard Catalog of World Paper Money, Specialized Issues, Volume One. East State Street – Iola: Kp Books, USA, 2005.
– FERREIRA, Lupércio Gonçalves. As primeiras Moedas do Brasil. Recife: Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico de Pernambuco, 1987.
– GONÇALVES, Cleber Baptista. Casa da Moeda do Brasil, 290 anos de história, 1694-1984. Rio de Janeiro: Casa da Moedas do Brasil, 1985.
– GONÇALVES, Cleber Baptista. Casa da Moeda do Brasil. Rio de Janeiro: Casa da Moeda do Brasil, 2 edição, 1989, 937p.
– GONSALVES DE MELLO, José Antônio. Os Ducados Brasileiros de 1645 e 1646 e as moedas obsidionais cunhadas no Recife em 1654. Recife: Revista do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico de Pernambuco, V.48, p.185-227.
– HERKENHOFF, Paulo (organizador). O Brasil e os Holandeses 1630-1654. Rio de Janeiro: GMT Editores Ltda. 1999.
– LISSA, Violo Idolo. Catálogo do Papel-Moeda do Brasil 1771-1986. Emissões oficiais, bancárias e regionais, Brasília: Ed. Gráfica Brasiliana, 3 edição, 1987.
– MAILLET, Prosper. Catalogue descriptif des Monnaies Obsidionaleset de Nécessité. Bruxelles : 1870.
– MAGALHÃES, Augusto F.R. de. Os Bancos Centrais e sua função Reguladora da Moeda e do Crédito. Rio de Janeiro: A Casa do Livro. 1971, 487p.
– NETSCHER, P.M. Les Hollandais au Brésil, notice historique sur les Pays-Bas et le Brésil au XVII siècle.Le Haye (Den Haag): Belinfante Frères, 1853.
– PROBER, Kurt. Catálogo de Moedas Brasileiras. Rio de Janeiro: 1ª edição, 1960.
– PROBER, Kurt. “Obsidionais” As primeiras Moedas do Brasil. Rio de Janeiro: Paquetá, Monografias Numismáticas – XIII, 1987.
– RIZZINI, Carlos. O Livro, o Jornal e a Tipografia no Brasil, 1500-1822, com breve estudo geral sobre a informação. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado, Ed. facsimilar, 1988.
– SANDRONI, Paulo. (organização e supervisão) Novíssimo Dicionário de Economia. Editora Best Seller, 1999.
– SANTOS LEITÃO. Catálogo de moedas brasileiras, de 1943 a 1965. Rio de Janeiro: Santos Leitão & Cia. Ltda, 10 edição, 1965, 205p.
– SHOROEDER, Cláudio. O Ducado Brasileiro (1645-1646), Boletim da SNB, Ed. 51.
– TRIGUEIROS, F. dos Santos. Dinheiro no Brasil. Rio de Janeiro: Léo Cristiano Editorial, 2ª edição, 1987.
– VAN DER WEE, H. (org.). La Banque en Occident. Genève: Union Bancaire Privée, Fonds Mercator Anvers, 1994.
– VAN LOON, Gerard. Histoire métalliquedes XVII Provinces des Pays-Bas, depuis l ´abdication de Charles Quint jusqu`a la paix de Bade en MDCCXVI. La Haya (Den Haag): 1732-1737, 5V.
– VARNHAGEN, Francisco Adolpho de. História da Lutas com os Hollandezes no Brazil desde 1624 A 1654.Viena: 1871.
– WÄTJEN, Hermann. O domínio colonial holandês no Brasil: Um capítulo da história colonial do século XVII. Recife: Cia. Ed. de Pernambuco, 2004, p.291-343.
Essa lista foi originalmente publicada no site Caderno Numismático, ao qual, infelizmente, hoje está fora do ar. Em breve, todos esses livros estarão na aba Bibliografia Especializada aqui no Portal Numismáticos.
André, achei muito interessante e esclarecedor o artigo sobre as botijas do Rio Formoso. Comprei uma destas moedas em um leilão de uma numismática. Moeda Brasil – XXXX Soldos 1654 – BOTIJA DO RIO FORMOSO. Quantas existem, como saber se é verdadeira e valor?
Excelente texto. Tenho três dessas moedas em minha coleção. Uma de prata (bela moeda) e duas de bronze.
Quando era um garoto, em 1990, meu pai me apresentou ser senhor que encontrou a botija.
Gostaria de mais informações sobre a botija encontrada na zona rural de Rio Formoso no engenho Gindai Pernambuco
Boa tarde,
Basta comprar a literatura indicada!
Um texto bem interessante, mas não vi na literatura indicada os livros do dr. Rubens Borges Bezerra:
MOEDAS HOLANDESAS EM PERNAMBUCO, volumes I, II e III, Uma das mais importantes obras (talvez a mais importante) sobre os ducados brasileiros.
O texto é bem interessante! Mas acrescentaria na literatura indicada os livros do dr. Rubens Borges Betexto ézerra: MOEDAS HOLANDESAS EM PERNAMBUCO, volumes I, II e III. Uma das mais importantes (talvez a mais importante) obras sobre os ducados brasileiros.
Me gustà mucho tu artÃculo, felicitaciones.Thanks Sharing. Gran sitio, gran contenido.