Edil Gomes | 1825P Moeda Emergencial para a Província do Grão Pará

O registro dessas moedas de 80 réis e 960 réis de 1825 P, já vem sendo debatido por longos anos, foi citado pela primeira vez em 1905 por Julius Meili, no seu livro “Brasilianische Geldwesen”, O Meio Circulante no Brasil – Tomo II – As Moedas do Império do Brasil – 1822-1900. Depois em 1908 por Augusto Souza Lobo, no Catálogo da Coleção Numismática Brasileira.

Saturnino de Pádua, em 1941, no seu livro “Moedas Brasileiras” levantou novamente a questão sobre a origem e Kurt Prober, um dos que mais estudou essas moedas, fez sua primeira menção em 1946 no livro “Moedas Falsas e Falsificadas do Brasil”.

Novamente um intervalo de tempo e em 2000, Arthur Victor Lerner fez dois artigos sobre as moedas 1825P, no Boletim da Sociedade Numismática Brasileira.

Esses pesquisadores entram em divergências quanto à origem, sendo caracterizadas como falsas ou supostas de São Paulo, contudo sem nenhuma comprovação, e por conta disso nunca foram incluídas nos catálogos.

Em 2015 o numismata Rogério Bertapeli retoma o tema escrevendo um artigo no boletim da Sociedade Numismática Paranaense: “As 1825 P – Cunhagem de Moedas no Pará?”, onde descobriu nos documentos digitalizados na Biblioteca Nacional, o texto de um jornal dizendo: “Joze de Araujo Rozo mandou cunhar os dois vintens de cobre para valerem quatro sem legítima autoridade; este dinheiro corre nesta Província.”

Após apresentar a sua opinião sobre tudo o que encontrou, no final deixou a seguinte questão: “Deixo esse artigo nas mãos dos colegas numismatas para que todos avaliem, e para que venham a concordar ou refutar das minhas afirmações. Aguardo entusiasticamente suas opiniões”.

Aquilo foi um misto de mistério e curiosidade em entender mais sobre essas moedas e a partir disso foram várias pesquisas dentro da linha que colocou nesse último artigo. Me interessei e procurei saber mais sobre o tema. Não demorou muito e já tinha algumas fontes confirmando a citação, entrei em contato com o Bertapeli, mas por conta de outros trabalhos que estava fazendo, sugeriu que continuasse a busca.

Muitos materiais foram pesquisados, livros adquiridos e assim começou a ser montado um grande quebra-cabeça que deu sentido à cunhagem de moedas 1825P no Pará, inclusive com documentos inéditos que estavam no Arquivo Público do Pará. O que era para ser um artigo que seria publicado no Boletim da SNB, pelo tamanho que ficou, acabou virando a primeira edição do livro e apresentado para Rogério Bertapeli, que foi convidado a ser co-autor e assim foi lançado em 2018.

Para entender a pesquisa o livro foi dividido em três partes:
Primeira parte: Como estava a província do Grão-Pará em período pós independência do Brasil, as dificuldades no comércio local pela falta de moedas para circulação e também a distância em relação à capital da corte que era no Rio de Janeiro, o Grão Pará foi a última província a aderir à independência. Foi pesquisado documentos de diversas fontes, alguns inéditos e também jornais da época, onde foi apresentado a intenção, autorização e a confirmação de que se cunhou moedas no Pará em 1825, o que torna algo contraditório já que não existia ou tinha-se conhecimento de uma Casa da Moeda no Pará.



Segunda parte: Tendo estudado esses documentos, passamos a pesquisar qual poderia ser essa moeda e chegamos em uma que mais se encaixaria, as moedas de 80 e 960 réis de 1825P, então transcrevemos todos os relatos em que foram citadas por numismatas, desde Julius Meili, Augusto Souza Lobo, Kurt Prober, Saturnino de Pádua e outros, onde tecem comentários sobre possíveis origens.

Terceira parte: Apresentamos um desmembramento de todas as moedas de 80 réis e 960 réis, exemplares conhecidos e outras até então não identificadas de 1825 P. Com esses exemplares, identificamos as variantes de 80 réis e de 960 réis, interessante ressaltar que algumas dessas moedas estavam classificadas em coleções como moedas de São Paulo. Todas essas moedas são recunhadas.

Dentre os vários documentos citados no livro, deixamos um dos pareceres em relação a um pedido enviado da Província do Grão Pará à corte do Rio de Janeiro, de se cunhar moeda, encontrado no Arquivo Nacional do Rio de Janeiro:

“Passe provisão participando ter e expedido ordem … que não pode ter lugar a remessa de dinheiro desta Capital nas circunstâncias atuais do seu Tesouro onerado de gravíssimas, e extraordinárias despesas para a defesa do Império, e que se aprova a medida indicada de cunhar moeda de prata e cobre com o cunho do Império, sendo urgente esta providência para bem da Província. Rio de Janeiro, 4 de Junho de 1824. Fonseca Passada Portaria em 11 de junho, remetida em 15.”

Toda a pesquisa foi baseada em documentos oficiais, atas dos governos do Grão Pará, jornais da época e principalmente por moedas que são elementos de nossa história.

Página de uma ata em que se solicitava a cunhagem de moedas.
(Arquivo do Pará-APEP)

 

Lançamento da segunda edição em 2024
Após o lançamento do livro, outras moedas tanto de cobre quanto de prata foram surgindo em coleções particulares e resolvemos fazer uma complementação. O salto das moedas que surgiram e foram identificadas após a primeira edição foi tão grande que se tornou necessária a publicação da segunda edição com mais páginas.

Na primeira edição lançada em 2018 havia 14 moedas de cobre de 80 réis e 5 moedas de prata de 960 réis. Na 2ª edição já estão catalogadas 102 moedas de cobre e 14 moedas de prata conhecidas. Com essa quantidade de moedas, foi possível fazer uma identificação de todas as variantes e a devida classificação. Listando também formas de fazer essa separação, com descritivo das variantes e a foto de todas elas.

As moedas de 80 réis e 960 réis 1825 P passaram a ser reconhecidas e mesmo que não apresentem data é possível fazer a sua devida classificação não deixando margem para dúvidas, principalmente para as moedas de cobre.

Após a publicação da primeira edição, passou a constar em alguns catálogos como o “Moedas de Cobre do Brasil” de Enio Garletti e Rogério Bertapeli, do “Catálogo Amigo” edição de 2022 de Maurício Porto Moreira e do “Moedas Brasileiras – Catálogo Oficial”, edição de 1500- 2021, de Rodrigo Maldonado.

Também passou a haver uma maior procura e disputa entre os colecionadores sempre que aparece em leilões.

O valor dessas moedas está ligado ao aspecto visual, primeiro do estado de conservação, de ter a data, o tipo de recunho e ter o nome “Alvarez” na esfera armilar, não tanto com relação à variante. Por essas características, torna cada moeda 1825 P única, possuindo outros pontos marcantes que só têm nelas.

Apesar de ser um assunto específico, o livro traz uma história sobre o tema e um caminho para futuras pesquisas sobre qualquer tipo de moedas.

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Canal do André Padilha – Entrevista gravada em 02.02.2024

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Em áudio no Spotify
Algumas moedas de cobre e prata citados no livro:



Moedas de cobre – 80 réis 1825P

80 réis com a data visível e carimbo da Cabanagem

 

80 réis com a data visível, identificamos essa moeda como sendo do livro do Julius Meili, Moeda retratada como número 72 no seu livro “Brasilianische Gelswesen – tomo II (Moedas do Brasil de 1822 a 1900 – lançado em 1905.
 

80 réis com carimbo Geral

 

80 réis com a data visível
 

 

Moedas de Prata – 960 réis 1825P

 

960 réis com a data visível, recunhado sobre 5 Francos

960 réis com data visível, recunhado sobre 5 Francos.

960 réis recunhado sobre 8 Reales, com batida dupla.

 



André Luiz Padilha

Graduado em direito com especialidade em meios alternativos de soluções de conflito e atualmente é estudante de História. Colecionador de moedas desde 1997 e numismata desde 2011. É um ativo divulgador da numismática nacional publicando diversos artigos e estudos por dezenas de plataformas, presta serviços como avaliador e consultor em pelo menos 9 países, também é o fundador da Numismática Castro, do CNERJ e do canal Café e Numismática. É sócio da American Numismatic Association (ANA)

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