As moedas MCMI – Comuns pela quantidade, mas rica em história

           Cada moeda tem sua particularidade e é cercada de história e sempre as mais raras são as que despertam maior interesse para estudo, contudo resolvi pesquisar uma moeda comum, essas da série MCMI, composta pelas moedas de 100, 200 e 400 Réis que pela quantidade não ocupam lugar de destaque e uma coleção numismática, mas em pesquisas vi que essa série de moedas comum reúne muitas história e mistérios.
Estávamos em um período relativamente curto de transição de Império para República, muita coisa ainda para ser acertada, economia do país e do mundo passando por crises e após análise percebi que essa moeda foi símbolo para o novo governo e cada vez mais surgia um novo assunto sobre elas, achei artigos interessantes e citações que estavam perdidas, no que conhecemos atualmente sobre elas, tudo muito resumido. Convido todos a entrarem nessa máquina do tempo e juntos voltarmos ao passado, acho que depois disso, teremos outros olhos para essa série simples da nossa numismática e impossível acompanhar a leitura desse artigo sem antes colocar essas moedas a mão.



Legalização da emissão

           Toda moeda cunhada precisa de uma lei sancionada, regulamentando a emissão e quantidade total de peças cunhadas, curiosamente a primeira referência foi a lei 559 de 21 de dezembro de 1898:

“mandar cunhar no estrangeiro, com quem maiores vantagens oferecer, a soma de 20.000:000$000, em moedas de níquel, dos valores de 400, 200 e 100 réis, pesando respectivamente 12, 8 e 5 gramas. A liga monetária será a mesma das atuais moedas desta espécie; o Governo providenciará oportunamente sobre o recolhimento e desmonetização das moedas ora em curso, abrindo para a execução desta disposição os necessários créditos”

Como a emissão não aconteceu, uma nova lei foi promulgada para substituir a anterior,  a Lei 640 de 14 de novembro de 1899, que em síntese orça para o exercício de 1900 cunhar onde mais conveniente for, vinte mil contos de réis em moedas de níquel nos valores de 400, 200 e 100 réis.
Pouco mais de um ano passou e uma lei que desta vez foi a última lançada regulamentou de fato emissão. A lei 741 de 26 de dezembro de 1900. Interessante colocar a lei na íntegra para que possamos juntos entender a quantidade de moedas lançadas para essa série:

“Que orça a Receita Geral da República… para o exercício de 1901 e dá outras providências.
O presidente dos Estado Unidos do Brasil: Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a lei seguinte:
…Art. 2º – É o Governo autorizado: a emitir 10.000:000$000 em moeda de níquel mais o restante 20.000:000$000$000, já autorizados, caso não tenha sido emitidos na totalidade do exercício corrente”.

      Com isso estava definitivamente decidido a emissão da nova série, foram precisos três leis basicamente com o mesmo teor para que fosse criado a série das moedas 400, 200 e 100 réis. Essa demora no lançamento dos novos valores, estava ocasionando dificuldades nas transações do comércio, percebe-se também que havia uma movimentação e discussões onde seria cunhado, se que a Casa da Moeda do Rio de Janeiro teria condições de cunhar toda essa quantidade, e também a desvalorização das moedas que estavam em circulação comparadas ao seu peso As moedas em circulação de 200 réis de 1889 a 1900 possuíam 15g, enquanto as novas teriam 8 gramas, já as de 100 réis de 1899 a 1900 tinham 10g e as novas de 100 réis 5g, não existiam moedas de 400 réis circulando na época.

Qual seria o desenho da nova moeda?

Imagem do ensaio monetário de Hilarião (Reprodução de Pedro Balsemão)

      Quando a primeira lei foi autorizada em 1899 iniciou-se um estudo feito para a emissão das novas séries de Hilarião Teixeira, o qual Francisco Carneiro se encarregou do cunho da moeda prova, que pesava 11,90gr.

      Reverso: Em círculo a inscrição “REPUBLICA DOS ESTADOS UNIDOS DO BRASIL”, uma estrela abaixo, ao centro o valor 400 Réis acima e abaixo um traço com um ponto no centro. Também com um círculo periférico de pérolas.

      Anverso: Cabeça de mulher, à direita, coroada de louros com uma fita sobre a nuca e circulada por 21 estrelas, dentre essas a do meio sobre a cabeça maior e irradiada, na fita da coroa – Libertas – e no exergo a sigla do gravador FC, abaixo o ano de 1899. Tendo um circulo periférico de pérolas.

           Nesse exemplo em questão, por se tratar de uma reprodução produzida por Pedro Balsemão, temos a inscrição “PP” presente na peça.

         Apesar do ensaio não ser o aprovado para a série, nota-se alguns elementos foram usados nas moedas de prata de 1906 a 1912.

 

 



Moeda definitiva

         Por fim, a moeda que atualmente conhecemos foi apresentada pelo escultor Rodolfo Bernardelli e tendo como gravador o francês Paulin Tasset, deste a sigla em forma de monograma (PT), que aparece nas moedas e que apresenta a seguinte descrição:
Reverso: Brasão da Armas da República, tendo a esquerda um ramo de oliveira, em cima o valor nominal de cada moeda. Na orla superior a inscrição “REPUBLICA DOS ESTADOS UNIDOS DO” e na inferior a palavra “BRASIL” entre duas estrelas e acima da palavra Brasil o ano em romano MCMI (1901)
Anverso: Cabeça de uma mulher personificando a República Brasil, com um diadema com a palavra LIBERT (AS), na orla anel de 21 estrelas em círculo, entre as estrelas, na parte inferior ainda consta a sigla PT do gravador Paulin Tasset.

Onde cunhar essa quantidade de moedas?

         O total de moedas dessa nova série, era tão grande, que a Casa da Moeda do Rio de Janeiro não tinha estrutura suficiente para abraçar a totalidade do pedido, então abriu-se uma concorrência e em julho de 1901 a empresa alemã Basse & Selve, da Alemanha, que na época era representada no Rio de Janeiro pela casa Haup, Bihen & Cia., empresa esta que produzia alumínio e níquel para produção de moedas e de bronze (uma liga de cobre e zinco), além de peças para dirigíveis e acessórios de todos os tipos. Com essa particularidade, várias moedas cunhadas nesse período foram de material proveniente da Basse & Selve, que era de propriedade de Gustav Selve um dos industriais mais importantes na época da Alemanha.

        Como a quantidade de moedas cunhadas era a maior já produzida na época, a cunhagem foi distribuída entre diversas Casas de Moedas de Paris, Bruxelas, Viena e Hamburgo, curiosamente algumas dessas moedas também foram cunhadas em 1902 sem contudo alterar sua data.
Para a época, foi algo inusitado, ultrapassando todas os recordes até o período, para se ter uma ideia, em 1901 os Estados Unidos mandou cunhar em níquel 26.480.213 moedas de 5 cents e a Casa da Moeda do Rio de Janeiro de 1889 à 1900 cunhou moedas de 100 e 200 réis numa tiragem total em 12 anos de 53.164.463 moedas.

        A quantidade de moedas cunhadas chegou ao valor total estipulado pela lei de 1900 que era de 30.000:000$000

Valor facial Quantidade Valor em réis Peso em kg
400 réis 26.250.000 10.500:000$000    315.000
200 réis 60.000.000 12.000:000$000    480.000
100 réis 75.000.000   7.500:000$000    375.000
Totais 161.000.000 30.000:000$000 1.170.000

 

Há variantes?

        Não sei se poderiam ser consideradas variantes, mas foi possível identificar a origem de algumas moedas cunhadas em casas de moedas distintas embora tenham sido utilizados o mesmo material (níquel) e o mesmo cunho. Do total, 25% foi cunhada na Casa da Moeda de Bruxelas (Bélgica), 16 % na casa da Moeda de Paris (França) e o restante em outras três casas da Moeda, Hamburgo (Alemanha), Birmingham (Inglaterra) e Viena (Áustria). Nenhuma delas possui identificação quanto a origem, mas é possível distinguir algumas quanto a procedência através do peso.

Por exemplo, as cunhadas em Hamburgo, na Alemanha, o metal possui uma coloração voltada para o amarelada, possui pequenas diferenças quanto ao peso, como a moeda de 400 Réis com 12.05g, e a de 200 Réis com 8.03g com um módulo de 25.1mm e a de 100 Réis com 5.05g. Já as de Birmingham, na Inglaterra, a moeda de 400 Réis foi cunhada com 12.09g, a de 200 Réis com 7.85g com módulo de 24.4mm e a de 100 Réis pesando 5.05g.

        Algumas outras diferenças minimas entre os cunhos, nos permitem concluir que cada um foi produzido de forma independente e não reduzido de um único molde de gesso:

           Variações na quantidade de pérolas presentes – Na moeda de 400 Réis, temos 101 no anverso e no reverso, na de 200 Réis, temos 108 pérolas no anverso e 190 no reverso, já as de 100 Réis possuem 112 pérolas no anverso e 114 no reverso;

           Marca do Gravador – Nas moedas de 400 Réis e 200 Réis, a sigla PT, marca do gravador Paulin Tasset, fica exatamente em cima de uma das pérolas, enquanto na moeda de 100 Reis, a sigla fica um pouco mais descolada para esquerda;

           Cruzeiro do Sul – O Círculo que serve de fundo para o Cruzeiro do Sul, no Brasão de Armas da República, possui 22 traços salientes na moeda de 400 Réis, enquanto nas moedas de 200 Réis e 100 Réis, possui apenas 21 traços;

           Armas da República: Na ponta superior direita da estrela, existem traços paralelos divergentes, na moeda de 400 Réis são 8, na de 200 Réis são 7, enquanto na moeda de 100 Réis são apenas 6 traços;

           Liberdade: A curvatura perto da orelha na figura da liberdade da moeda de 400 Réis é mais arredondada do que nos outros valores. Na moeda de 100 Réis, a ponta do cacho de cabelo, na nuca, não está afastado como nas moedas de 200 Réis e 400 Réis. Os nariz da figura, em cada valor, apresenta particularidades diferentes entre si e o pescoço é proporcionalmente mais alto nas moedas de 100 Réis;

           Ramos de Oliveira: Os frutos do ramo de oliveira, na parte inferior esquerda, entre o punho do sabre e a ponta da estrela, possuem disposições diferentes e mudam de número para cada valor monetário, sendo 6 para a de 100 Réis, 8 para de 200 Réis e 7 para a moeda de 400 Réis. Sobre essa mesma ponta da estrela, existem frutos cuja disposição e números variam conforme o valor, sendo 5 frutos para 100 Réis e 200 Réis e 6 frutos para a moeda de 400 Réis.



As moedas chegam ao Brasil

          As moedas chegaram acondicionadas em 8.200 Barricas de madeira e no seu interior acondicionadas em sacos de tecido e em dezembro de 1901 inicia o lançamento na circulação das moedas de 100 e 200 réis e as de 400 réis em março de 1902, precedidos pela Circular 55 da Capital Federal, que fazia uma descrição das moedas que entrariam em circulação.
Apesar de existir uma lei (953 de 29 de dezembro 1902), onde mandava providenciar o recolhimento das moedas antigas, isso não aconteceu e as moedas do período de 1899 a 1900, passaram a circulam juntamente com a série MCMI. Além dessas moedas também estavam em circulação as moedas de 100 Réis, 200 Réis e 50 Réis de níquel do império, moedas de 10 Réis, 20 Réis e 40 Réis de bronze do Império e as de 40 Réis e 20 Réis de bronze da República. E as moedas de troco que antes estavam em falta, agora circulavam em abundância.

 

Moedas falsas

            Como se não bastasse a grande quantidade de moedas circulando, várias moedas falsas da nova série começaram a aparecer no meio circulante. O renomado numismata contemporâneo Augusto Souza Lobo, já havia na época o conhecimento dessas moedas falsas e em 13 de maio de 1904 o “Jornal de Commercio”, publicou uma carta em que citava essas falsificações, ao qual transferiremos a seguir, de forma integral, inclusive com erros de gramática e construção:

           Um dos nossos amigos residente no Estado do Paraná, com quem trocamos amistosa correspondência sobre numismática, remetteu-nos há dias pelo correio uma moeda de nickel de 400 réis com a nota de – falsa – “das que circulam aqui no commercio” disse elle.
Sendo a moeda do Brazil o nosso ideal em numismática, demo-nos pressa em analysar a referida moeda, cuja legalidade a julgar pela apparencia, não poderíamos pôr em dúvida. Qual não foi, porém, a nossa sorpresa, estabelecendo um confronto rigoroso da gravura com outras que temos das primitivas que sahiram para a circulação, deparando com um cunho inteiramente diverso, embora obedecendo às mesmas linhas, mas cuja falsificação é da maior evidência!
A moeda legal tem o peso de 12,20 gramas, em um disco de 30m/m por 2mm de espessura; a moeda falsa tem estas duas medidas ligeiramente mais reforçadas, accusando, porém, uma differença de 0,10 gramas, para menos no peso.
As differenças que notamos no reverso consistem no seguinte: a moeda legal tem na orla 101 pontos e a falsa 96, sendo os destas maiores dos que os daquella. A moeda legal tem o espaço entre a quina do disco e a linha de pontos, em rampa; a falsa tem n´o abaulado. O monograma T.P., entre a orla e a figura na moeda legal, está separada da linha de ponto-; entretanto que na moeda falsa tem a base ligada a um dos pontos da referida linha.
A figura na moeda legal tem menos relevo, e as linha, em geral, tem menos vida; o contrario disto se vê na moeda falsa. O anverso apresenta igualmente notáveis differenças, conquanto sejam iguaes na quantidade de pontos da orla que uma ou outra tem 101, e o espaço entre a linha de pontos e a quina do disco seja rampada em ambas.
Os SS da legenda são mais fechados na moeda legal do que na falsa; a haste do – 4 – do valor é menos obliqua na legal do que na falsa, e o accento agudo sobre o – E – da palavra Réis e menor e menos obliquo na moeda legal do que na falsa.
A haste do – R – inicial da palavra Réis na moeda legal, está em linha recta com uma das linhas da irradiação do escudo; ao passo que na moeda falsa essa linha da irradiação toma outra directriz, aggastando-se para a esquerda.
As linhas de irradiação entre as duas hastes do lado direto da estrella differem no numero; a moeda legal tem 11, a falsa tem 14.
A pouca vida que se nota no conjuncto do escudo das armas na moeda legal em relação a moeda falsa, provém da menor quantidade das linhas de irradiação, e apparecerem estas sómente na extremidade do escudo, ao contrario da falsa em que as linhas são em maior numero, e surgem do centro do escudo, em traços firmes e vigorosos, o que dá inquestionavelmente mais realce pela superioridade do relevo.
O circulo da constellação ou Cruzeiro, na moeda legal, tem 21 linhas, sendo que a falsa tem apenas 19.
A estrella superior do lado esquerda na moeda legal, está collocada em uma linha superior a da direita, entretando que na falsa ellas estão collocadas no mesmo plano, formando com a do meio um triangulo perfeito.
A terceira folha do braço central do ramo que se vê à esquerda do escudo da moeda legal, tem a direcção da primeira haste da lettra A da palavra “Republica”, ao passo que na moeda falsa, tem a direcção contra a curva inferior da lettra C da mesma palavra.
Não ousamos emittir opinião a respeito da qualidade do metal de que é feita, por desconhecermos os processos que regem a matéria e por meio dos quaes sómente se póde obter o recedictum, mas, a julgar pela cor amarello-escuro que transparece nos altos relevos, parece-nos que deve ser uma liga Metallica em que predomina o cobre ou o latão.
A apparição desta moeda falsa na qual se acham reunidos, além do peso e medida da moeda legal, a suprioridade gravura, é a nosso vê, um grande perigo, tanto mais que o Governo deve possuir ainda em deposito grande somma desta moeda, resultante da cunhagem de 30.000 contos.
No segundo reinado do Imperio a falsificação da moeda de cobre assumiu proporções taes, que o Governo vio-se obrigado a decretar em 1833 o recolhimento às Thesourarias de toda a moeda de cobre em circulação, rebaixando-a por meio do carimbo em 50% do seu valor, fazendo assim desapparecer os lucros fabulosos que auferiam os falsificadores.
Com a moeda de nickel a questão é mais delicada, attenta a sua grande somma, à qual o Governo não póde deixar de prestar séria attenção, não só decretando o immediato recolhimento do padrão antigo ainda em circulação, unificando o typo, como leis coercivas para os falsificadores.
Respeitando as boas intenções que dictaram a creação deste typo de moeda, com o valor augmentado no dobro e o peso reduzido a menos de meio, não podemos deixar de constatar que foi um largo campo que se abrio aos falsificadores, que podem, com um nickel antigo de 200 réis, que pesa 15 gramas, fabricar uma moeda de 200 réis que pesa apenas 12 grammas!
Ora, o lucro proveniente desta operação não deixa na verdade ser seductor!”

A citação ainda apresentou uma apreciação do jornal nos seguintes termos:

            “Merece toda a attenção do Sr. Ministro da Fazenda carta que nos foi dirigida pelo Sr. Augusto de Souza Lobo”

            Dentre algumas formas de distinção entre as verdadeiras e falsas podemos citar algumas diferenças. Souza Lobo, em seu catálogo publicado em 1908, identificou algumas dessas moedas. Nas moedas de 400 Réis, ele dividiu em falsificadas por cunhagem “muito perfeitas”, onde teriamos moedas com pesos de 12.10g, 13.10g, 12.80g, 11.70g e 10.20g, ainda classificou falsificações por modelagens grosseiras nos pesos 9.50g e 8.90g. Nas moedas de 200 Réis, Souza Lobo também fez algumas citações quanto as diferenças entre pesos de falsas e verdadeiras, apresentando pesagens falsas de 7g, 7.95g e 5.90g.

           Citou ainda uma moeda de com aparência de alumínio, com pouco brilho e superfície desigual, parecendo ter sido fundida. Observou que a letra “D” em “DOS”, depois de República, era diferente em falsificações posteriores, dessas já um tanto quanto melhoradas. Entre e dentro das letras de “BRASIL”, algumas vezes apareciam pontos.

            Citou uma moeda de 400 Réis, com aparência azulada, brilhante. As estrelas no reverso são muito imperfeitas. A sigla do gravador não foi feita com segurança e parece mais com um F maiúsculo defeituoso. Antes da palavra “Brasil”, encontra-se outro ponto. Essa moeda foi falsificada em Pernambuco e pesa 11.13g.
Citou uma moeda de 200 Réis, aparência de alumínio e sem brilho, superfície muito desigual, a cabeça da liberdade, tem junto ao corte, um ponto que não existe na legitima, tem o peso de 7.10g.
Citou uma moeda de 200 Réis, aparência azulada, semelhante a de 400 réis, devendo ter a mesma liga metálica, como se fosse latão. As estrelas e a sigla não são perfeitas, o lado esquerdo da barra da letra “T” em “Estados” é mais curta do que a do lado direito, e o primeiro zero do valor está inclinado um pouco para a esquerda, evidências indicam que a falsificação também foi feita em Pernambuco, tem o peso de 7.41g.
Por ser valor muito baixo, não existem relatos de moedas falsas de época no valor de 100 réis.

MCMI

            A série MCMI circulou de 46 a 47 anos, já que entraram em circulação inicialmente em 1901 e 1902. Por tanto tempo no meio circulante, restaram poucos exemplares em estado de conservação FC, apesar do níquel ser um metal resistente. Os exemplares em melhor estado nota-se a palavra “LIBERT”, contornos do brasão e do símbolo da liberdade, além da sigla do gravador. Embora tenha sido a maior emissão de moedas cunhadas na época, sabe-se que em 1914 ainda tinha na Casa Moeda cerca de 50% dessas moedas que foram colocadas em circulação.
O padrão monetário réis teve sua duração de 08 de Outubro de 1833 à 31 de Outubro de 1942, data em que foram recolhida todas as moedas para circulação do novo padrão “Cruzeiro”, com os valores fracionais de centavos, através do Decreto 4791 de 5 de Outubro de 1942.



Quem foi Rodolfo Bernardelli

Uma das esculturas de Rodolfo Bernardelli, muito semelhante a imagem atual das série MCMI

            O autor do desenho, nasceu no México em 1852, mas no Brasil se formou e lançou suas obras. Naturalizou-se brasileiro em 1874. Em companhia da família (foi irmão dos também artistas Henrique Bernardelli e Félix Bernardelli), deixou seu país natal em 1866, passando pelo Chile e Argentina e fixando moradia no Estado brasileiro do Rio Grande do Sul. De lá, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde frequentou, entre 1870 e 1876, aulas de escultura e de desenho de modelo vivo na Academia Imperial de Belas Artes. Viveu alguns anos na Europa, estudando em Roma. De volta ao Brasil, passou a atuar como professor de escultura estatuária na Academia Imperial de Belas Artes e como diretor na recém-criada Escola Nacional de Belas Artes, que chefiou por 25 anos. Deve-se-lhe a construção do atual edifício.
Um dos maiores escultores brasileiros, deixou uma extensa produção, entre obras tumulares, monumentos comemorativos e bustos de personalidades. Executou as estátuas que ornamentam o prédio do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, o Monumento a Carlos Gomes em Campinas, uma estátua de Dom Pedro I para o Museu Paulista da Universidade de São Paulo e uma estátua de Pedro Álvares Cabral. Parte considerável de seus trabalhos foram doados para a Pinacoteca do Estado e para o Museu Mariano Procópio, em Juiz de Fora, onde seu último trabalho, um busto inacabado, está.
Desenvolveu inúmeros trabalhos em medalhas, sendo destaque o monumento reproduzido na moeda de 4 mil réis da série Comemorativa do 4º Centenário do Descobrimento do Brasil.

Quem foi Paulin Tasset

            Na produção estrondosa das moedas de 1901 (as primeiras e únicas onde a era é expressa em algarismos romanos – MCMI), todas cunhadas fora do Brasil (Alemanha, Inglaterra, Áustria, França e Bélgica), entre as estrelas aparece uma discretíssima sigla PT, quase imperceptível, sigla do francês Paulim Tasset.
Nasceu em Paris em 15 de Novembro de 1839. Escultor, medalhista, estudou na Escola de Belas Artes de Paris. Atuou como assistente de gravador na Monnaie de Paris, tornando-se gravador em 1869, sendo um dos mais importantes de sua época. A sua primeira exposição pública foi no Salon 1869. Foi cavaleiro da Legião de honra desde 1895, e membro da Société des Artistes Français. No Congresso Internacional de Numismática realizado em Bruxelas em 1910, presidiu a secção “Medalhas Modernas” mostrando grande competência.
Durante alguns anos, Tasset foi assistente de Albert Barre, Chefe-gravador da Casa da Moeda de Paris. A seu lado, preparava matrizes para moedas francesas, obtendo comissões de vários governos: Bolívia, Brasil, Colômbia, Grécia, Haiti, Marrocos, Mônaco, Sérvia, Uruguai, Venezuela, República Dominicana, Holanda, entre outros. Tasset é considerado um dos melhores gravadores de medalha contemporâneo. A ele se deve a arte da técnica que tornou possível transformar um modelo de qualquer dimensão numa moeda de tamanhos inferiores. Entre suas numerosas obras se incluem retratos, peças comemorativas e medalhas de premiação. Faleceu em 1919.

Curiosidades

• Primeira moeda onde aparece o rosto da mulher da república;
• Primeira moeda onde aparece o brasão das armas do Brasil;
• Única moeda brasileira com o ano escrito em algarismo romano (MCMI);
• A palavra Libert na verdade seria libertas, entende-se que como o busto está em perfil, as outras letras (AS) ficariam ocultas;
• Primeira moeda a usar a grafia Brasil com o “S”.



Classificações nos catálogos

100 réis
CRMB* Prober Amato Vieira Amigo Krause
1901-N-100 N-1827 V.054 N-54 pag. 156 KM# 503

 

200 réis
CRMB Prober Amato Vieira Amigo Krause
1901-N-200 N-1828 V.055 N-55 pag. 156 KM# 504

 

400 réis
CRMB Prober Amato Vieira Amigo Krause
1901-N-400 N-1829 V.056 N-56 pag. 156 KM# 505

*(CRMB) Código de Referência das Moedas Brasileiras

 

            Não citamos na referência acima a numeração do Catálogo da Coleção Numismática Brasileira, de Souza Lobo, página 214, numeração que recomeça como República, II parte do catálogo, ele também faz a classificação dessa série como sendo do 2º tipo da república, o primeiro tipo seriam os valores de 100 e 200 réis que substituíram as moedas que circulavam no império e passaram a ter os elementos da república o qual apresentamos abaixo, por ter numeração própria para cada peso dos valores conhecidos por ele, sem contudo identificar a origem quanto a Casa da Moeda que foi cunhada:

Número Valor Peso
400 réis 11,90 gr.
70 400 réis 12,30 gr.
71 400 réis 12,20 gr.
72 400 réis 11,75 gr.
200 réis 7,98 gr.
73 200 réis 8,00 gr.
74 200 réis 7,86 gr.
100 réis 5,03 gr.
75 100 réis 5,05 gr.
76 100 réis 4,82 gr.

Consta ainda a numeração de número 77 onde sita uma prova de cunho da moeda de 400 réis, com chapa mais fina, tendo 30mm e peso de 10,90gr.



Para citar este texto:

GOMES, Edil. As moedas MCMI – Comuns pela quantidade mas rica em história. Portal Numismáticos – Numismática Castro, Outubro 2018. Disponível em: < https://numismaticos.com.br/as-moedas-mcmi-comuns-pela-quantidade-mas-rica-em-historia/>.

 

Referência
Augusto Souza Lobo, Catálogo da Coleção Numismática Brasileira, 1908
Claudio Amato, Irlei S. Neves, Arnaldo Russo, Livro das Moedas do Brasil, 13ª Edição.
Jorge G.J. Dessart, Notas sobre as moedas de MCMI, Revista Numismática da Sociedade Numismática Brasileira, edição de 1951 e 1952, páginas 20-33.
Madeira, Benedito Camargo. A moeda através dos tempos. 2.ª ed. Pouso Alegre: Irmão Gino, 1993. p. 42.
www.duiten.nl/brasil/brasil3.htm
www.pt.wikipedia.org/wiki/Rodolfo_Bernardelli
www.pt.wikipedia.org/wiki/R%C3%A9is
www.forum-numismatica.com/viewtopic.php?f=54&t=80134
www.moedasdobrasil.com.br/catalogo.asp?s=24&xm=174
www.detalhesleiloes.com.br/
www.brasilmoedas.com.br/media/catalog/product/cache/1/image/9df78eab33525d08d6e5fb8d27136e95/0/2/02915_cat680_4000reis_1900_ar_rev.jpg

André Luiz Padilha

Graduado em direito com especialidade em meios alternativos de soluções de conflito e atualmente é estudante de História. Colecionador de moedas desde 1997 e numismata desde 2011. É um ativo divulgador da numismática nacional publicando diversos artigos e estudos por dezenas de plataformas, presta serviços como avaliador e consultor em pelo menos 9 países, também é o fundador da Numismática Castro, do CNERJ e do canal Café e Numismática. É sócio da American Numismatic Association (ANA)

6 thoughts to “As moedas MCMI – Comuns pela quantidade, mas rica em história”

      1. Sou um setentão e gardo moedas desde criança. Perdi muitas más tenho algumas. 24 37,40 ( 200,300 400 e 2000Reis essa é de 1924
        Lendo esse seu lembrete das moedas , fique entusiasmado pois , é muito importante saber as origens quem as cunhou e os detalhes de cada uma peso , etc

  1. Boa noite. encontrei entre minhas moedas de 400 reis mcmi ,uma muito estranha . na parte de baixo do busto esta escrito S-GUERRA- Outra de 2 cruzeiros de 1946 encontrei 6 estrelas e anomalias a esquerda e a direita do numero 2

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