Aes Grave, A primeira moeda Romana

Trata-se de um assunto bastante debatido entre os colecionadores, qual seria a primeira moeda cunhada no mundo. Daí, temos diversas teorias que muitas das vezes conflitam em qual seria uma definição adequada para a palavra moeda. Apesar deste conflito em uma questão geral, sabemos que a primeira moeda genuinamente romana, seria a série AES Grave.
Para entendermos esse conceito, precisamos lembrar que, nos primórdios do “Império Imortal”, a economia era basicamente voltada para agricultura, onde os pagamentos eram concluídos na modalidade do escambo, havendo assim trocas pontuais de mercadorias e não um efetivo pagamento em um modelo parecido com o que temos hoje. Assim, não teríamos nenhum motivo para a emissão de qualquer tipo de moeda. Mesmo assim, naquela época, o metal precioso já era definido e usado também nesta modalidade, o escambo. Existindo assim as séries AES Rude e AES signatum, os precursores da primeira moeda, sobre a qual falaremos em outra oportunidade.

No século III antes de Cristo, perto do ano 289 a.C., é criada assim a primeira moeda romana, possuindo pesos e gravuras perto de um padrão e um modelo inicialmente baseado em uma libra romana de 320g. Segundo Ridgeway e Sydenham, a série Aes Grave é organizada pelo tamanho dos tipos, e não pelo peso. O As corresponderia a 296 mm e a Uncia a 24,67mm. No sentido de sua utilidade, seriam os equivalentes aos britânicos Pé (As) e Polegada (Uncia). Claro, mesmo a partir de uma medida primitiva de troca, a padronização em comprimento resulta em uma relação proporcional aproximada entre os pesos de moedas da série. Sendo assim, a série é constituída por: As (12 uncia), Semis (6 uncia), Triens (4 uncia) , Quadrans (3 uncia), Sextans (2 uncia) e Uncia (22,75gr/24,67mm). Note que as moedas da série são denominadas conforme a fração da unidade As. Ou seja, Triens, sempre com três pontos como valor, é um terço do As. Semis, com a letra de valor “S”, é metade do As.



Cada unidade dessas possuía uma gravura padrão pré-estabelecida, com uma capacidade artística, que para época, era bastante avançada. Sendo, a mais comum, a figura do reverso, onde é apresentado a frente de uma tribuna romana, um modelo especifico de embarcação da época onde sua representação dignificava a soberania e o poderio marítimo romano.
A Série AES Grave foi suficiente para Roma até a segunda grande guerra púnica no ano de 201 antes de cristo, onde a economia encontrou-se tão desvalorizada e abalada que houve a necessidade de uma grande reforma cambial, onde assim criaram-se as moedas de prata para circulação, desvalorizando assim o cobre a “moeda” mais barata.
Concluindo isto, vamos conhecer um pouco a série que possui o total de seis moedas diferentes, interessante saber também que, segundo Sydenham, estas moedas apresentam 68% de cobre, 8% latão e 24% chumbo. Essa combinação resulta em uma linda coloração característica do bronze romano, sofrendo alterações para uma concentração maior de cobre apenas no início do Baixo Império.

 

Ancient Coins - Uncia Anonymous Roman Republic ca 217-215 BC

Uncia

A Uncia (do latim, décima segunda parte), era a medida padrão para uma polegada, onde romanos mediam o comprimento com o próprio polegar. É a largura de um polegar humano regular, medido na base da unha, a qual, num ser humano adulto, é

de aproximadamente 2,5 cm (25,4mm). Aqui temos três anversos conhecidos, sendo “knucklebone”, emitido entre 289–245 a.C.; “Barley”, emitido entre 280–245 a.C. e mais visto, que se trata de um busto com capacete romano (Gálea) voltado a esquerda, produzido em 240 a.C.
Sextans
O Sextans era equivalente a um sexto de um As, ou duas unciae, forma mais correta de ser descrita. Mesmo que, comumente, pensamos em dividir e não em multiplicar como acontece nas moedas modernas, o correto nesses casos é partir da menor moeda para a maior, tanto é assim , que há uma representação na moeda de dois pellets (pontos) cada um indicando um uncia, ou seja, duas unciae igual a um sextans. Já nessa peça encontramos uma variedade maior de gravuras, podemos encontrar esta peça com representações como Águia, os irmãos Romulus e Remus sendo alimentados pela deusa lupa, o busto do deus Mercúrio, bem como um caduceu ou um Scallop (concha).

 

Ancient Coins - ROMAN REPUBLIC. Unofficial Issue. Anonymous Æ-Quadrans, after 211 BC; Rome mint.Quadrans

O Quadrans, literalmente “um quarto”, também é conhecido como teruncius (três unciae), como descrito anteriormente, nesta peça havia a presença de três pontos, representando assim um uncia cada. Apesar da peça mais vista ser a com a face de Hércules, existem variações com mãos, estrelas, águias ou mesmo cavalos. Lembrando que a denominação Quadrans, foi produzida de forma irregular até Antoninus Pius em 138-161 d.C..



Ancient Coins - Triens Roman Republic 211 BC - Pedigree: RBW Collection with ticketTriens

Um triens era o equivalente a quatro unciae, ou um terço de as. Mais tarde, na Gália, o termo triens foi usado também para os tremissis, já que ambos equivalem a um terço. Sua última emissão conhecida foi em 89 antes de cristo e aqui, também estão presentes os quatro pontos, representando um uncia cada. A gravura mais comum dos triens era a face de Minerva, mas também poderíamos encontrar com um golfinho ou mesmo um raio, referindo-se a Júpiter.

 

Ancient Coins - Anonymous, Rome, after 211 BC. Æ SemisSemis

A semis significa metade, ou seja, um peso equivalente a seis unciae, nesta peça já não havia mais a presença dos pontos indicando as unciae e sim a presença de um S, para representar a metade. As gravuras mais comuns aqui eram o busto de Saturno, mas havia também com a figura de um Pégaso. Esta peça foi emitida por mais tempo, sendo encontrada até 117-138 depois de Cristo, havendo passado por uma reforma de cunhagem por Augusto em 23 a.C, onde também, o Semis passou a ser a menor denominação das peças em Orichalcum.

 

As

O As, ou assarius, era a maior moeda do sistema e também a única que só possui uma única gravura, sendo esta a cabeça do deus Janus. Sabemos que Janus foi um deus romano que representava mudanças, transições, e sua representação com uma coroa de flores nesta peça, representa a gloriosa mudança que o Império Romano estava criando, saindo de uma emissão rude e arcaica, para um padrão moderno e eficaz de moedas.

Importante saber que todas as moedas que foram utilizadas para ilustrar esse texto foram vendidas pela Conatus Coins, a maior autoridade no que toca a numismática clássica no Brasil, com representações inclusive no exterior. Completar uma série Aes Grave é uma missão bastante difícil, mas a Conatus pode lhe auxiliar, caso assim desejar.



Para citar este texto:

PADILHA, André Luiz de Castro. Aes Grave – A Primeira Moeda Romana Portal Numismáticos – Numismática Castro, Março 2020 Disponível em: < https://numismaticos.com.br/aes-grave-a-primeira-moeda-romana/ >. Publicado Originalmente no Boletim 94 da Associação Filatélica e Numismática de Brasília, páginas 8 à 10.

André Luiz Padilha

Graduado em direito com especialidade em meios alternativos de soluções de conflito e atualmente é estudante de História. Colecionador de moedas desde 1997 e numismata desde 2011. É um ativo divulgador da numismática nacional publicando diversos artigos e estudos por dezenas de plataformas, presta serviços como avaliador e consultor em pelo menos 9 países, também é o fundador da Numismática Castro, do CNERJ e do canal Café e Numismática. É sócio da American Numismatic Association (ANA)

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