Todo colecionador é guardião provisório de uma parte da história

A cada nova peça que entra em nossa coleção além do seu aspecto cultural que retrata um momento histórico ou uma homenagem é também uma obra de arte desenvolvida por um profissional e teve todo um processo desde a sua criação, aprovação e impressão final.

E por serem parte de um período pode ter feito parte de uma coleção até chegar em nossas mãos e isso é intrigante, pois nem sempre sabemos a quem pertenceu. Lembro de vários selos que passaram por mim e também de uma coleção de selos comemorativos e regulares incluindo do Império que tive e que em determinado momento vendi por optar colecionar apenas moedas, pois apareceu uma troca e que me parecia mais agradável do que a coleções de selos, principalmente por sempre ouvir que a filatelia estava acabando, que não teria continuidade e assim foi feito. Não demorou muito e bateu o remorso pela coleção desfeita, mas assim é nossa vida e assim também é no colecionismo, onde muitas vezes compramos o que aparece, nos interessamos mais por alguma coisa e assim vamos seguindo, enfim, o que foi feito, está feito.

Passados alguns anos, uma pessoa me ofereceu uma coleção de selos comemorativos e como uma oportunidade que bate a porta, me fez relembrar os momentos agradáveis que a filatelia que proporcionou, está no sangue. Relutei, mas vi que a coleção era mais bonita que a que eu tinha, eram todos selos novos de 1900 a 1979, estavam organizados em havid e no álbum Tafisa, faltando apenas o bloco do Bicentenário de Ouro Fino. Não tive dúvidas, fiz uma proposta, teve contra proposta, outros interessados, mas no fim acabei comprando, não poderia deixar escapar e em menos de um mês completei com o bloco que faltava. Uma coleção primorosa e junto com ela vieram várias duplicatas devidamente identificadas em envelopes do correio, muito bem organizada, que fiz trocas ou vendi por valores muito abaixo no grupo que participo, assim também é uma forma de investir em outros itens para a coleção, embora não seja vendedor e nem me preocupe no valor que realmente vale ou marca no catálogo, mas sim em também repassar para outros colecionadores. Dessa coleção, toda vez que olhava ficava imaginando quanto tempo foi dedicada a ela e muito feliz por poder dar continuidade, trocar alguns com a ponta quebrada e outros com pequenas manchas.

 



Coleção de selos de Kurt Prober

Ainda me faltava os selos regulares e do Império, e sei que toda coleção é movida por paciência e fui refazendo aos poucos alguns selos, mas sem me preocupar por ser uma coleção secundária, contudo como algo que nos persegue, vi a venda quatro álbuns grandes com selos comemorativos, regulares, jornais e do império, poucas fotos e descrição um tanto vaga, o qual pedi mais outras para o anunciante e que me mandou algumas, mas pelo que vi e pelo valor anunciado, compensaria só pela amostragem e seria minha caixinha da sorte, o que fosse a mais seria adicional.

Quando chegou, a minha surpresa, somente nas duas primeiras folhas do álbum do império que abri já me compensou a compra, pois mesmo “feio” tinha um olho de boi de 60 réis, os quatro primeiros inclinados, na segunda folha a série dos verticais olho de gato completo e também os coloridos e de bônus um denteado de 30 réis. A partir dai foi só surpresa, era uma coleção completa de selos comemorativos e regulares devidamente identificados por filigrana.

Correndo os outros álbuns, minha surpresa maior foi encontrar três envelopes enviados a Kurt Prober e em algumas poucas marcações identificando selos a escrita que batia com letra e algarismos usados por ele. Ligando os fatos, vi que a coleção veio do Rio de Janeiro, foi como encontrar uma agulha no palheiro, já que tenho alguns livros dele e por também ter sido numismata com vários livros publicados, inclusive em filatelia o “Catálogo dos Selos Maçons Brasileiros”.

Assim é o colecionismo, onde quando menos se espera ela nos proporciona momentos agradáveis, revivemos parte da história, e por pesquisar somos agraciados pelo destino com um pouquinho de sorte.

Tal coleção já está devidamente guardada e o que for preciso será restaurado por estar em charneiras, algumas séries de taxa, de jornal e outras faltam exemplares para fechar e logo estarei procurando para dar continuidade.

Como também não sou acumulador, todos os selos repetidos após uma análise será disponibilizada, principalmente os selos comemorativos que já tenho para que outros colecionadores possam também completar suas coleções, assim seguimos sendo os guardiões da história para que outros possam desfrutar de momentos agradáveis como o que passamos atualmente.

A Coleção vem sendo gradualmente adicionada ao site da Numismática Castro e você poderá ter acesso CLICANDO AQUI, sendo que parte dela também foi leiloada pela plataforma Augustus Numis Leilões

Quem foi Kurt Prober

Kurt Prober (Berlim, 12 de março de 1909 — Rio de Janeiro, 23 de março de 2008) foi um numismata alemão naturalizado brasileiro, com várias obras publicadas. Foi o numismata brasileiro mais prolífico, tendo escrito dezenas de livros, artigos e monografias sobre moedas e medalhas. Foi fundador da Associação Brasileira de Numismática em 1º de Janeiro de 1951, com sede no Rio de Janeiro, e seu presidente de 1951 a 1988, e sócio-fundador da Sociedade Ibero-Americana de Estudos Numismáticos.

Obras publicadas:

  • Manual de Numismática— 1944
  • Moedas Falsas e Falsificadas do Brasil— 1946
  • Carimbos do Mato Grosso e Cuyabá— 1949
  • História Numismática da Guatemala— 1954
  • Catálogo das Moedas Brasileiras de Cobre— 1957
  • Catálogo das Moedas Brasileiras de Prata— 1958
  • Catálogo dos Selos Maçons Brasileiros— 1984
  • Obsidionais: as primeiras moedas do Brasil— 1987
  • Medalhas Maçônicas Brasileiras— 1988
  • Circulação de Ouro em Pó e em Barras no Brasil— 1990
  • Catálogo das Moedas Brasileiras
  • 1ª edição: 1960
  • 2ª edição: 1966
  • 3ª edição: 1981
  • Série de Monografias Numismáticas: 1951 — 1968

 



Para citar este texto:

GOMES, Edil. Todo colecionador é guardião provisório de uma parte da história. Portal Numismáticos – CASTRO & CO, Setembro 2022 Disponível em: <https://numismaticos.com.br/todo-colecionador-e-guardiao-provisorio-de-uma-parte-da-historia/>.

André Luiz Padilha

Graduado em direito com especialidade em meios alternativos de soluções de conflito e atualmente é estudante de História. Colecionador de moedas desde 1997 e numismata desde 2011. É um ativo divulgador da numismática nacional publicando diversos artigos e estudos por dezenas de plataformas, presta serviços como avaliador e consultor em pelo menos 9 países, também é o fundador da Numismática Castro, do CNERJ e do canal Café e Numismática. É sócio da American Numismatic Association (ANA)

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